| SINOPSE |
"Ilíada" poema épico que narra o décimo ano da guerra de Tróia entre gregos e troianos, aborda a ira de Aquiles, o herói, contra Agamémnon. Resgatámos para este filme o lastro deixado pelo cancelamento do espetáculo de teatro que teríamos estreado em Março de 2020. "Fragmento Ilíada – Filme Documento" é uma resposta a este cancelamento, um filme onde os jovens intérpretes do Curso Profissional de Artes do Espetáculo da Escola Secundária de Santa Maria de Sintra pudessem mostrar a sua sábia maneira de viver, de enfrentar os problemas e trazer o texto para o cinema. Na tela, a zanga de Aquiles, motor para este documento ficcional que criámos para um caminho paralelo entre a morte de Heitor, o sacrifício de Pátroclo, a arrogância de Agamémnon, a humilhação de Príamo, o desespero da bela Helena e a “guerra” contra a pandemia. A Guerra de Tróia transformou-se assim na nossa guerra de sobrevivência durante os sucessivos confinamentos.
| A nossa Ilíada em tempos de Pandemia |
Primeiro as palavras, a surpresa, a ida inesperada para a Grécia antiga, para as narrativas e tragédias clássicas, para Homero, para os textos fundacionais da dramaturgia contemporânea. A proposta, "Fragmento Ilíada" (seria obviamente impossível fazer a "Ilíada" integral), foi bem aceite pelos estudantes do Curso Profissional de Artes do Espectáculo da Escola Secundária de Santa Maria, na Portela de Sintra.
Estávamos no início do Ano Lectivo de 2019/2020. Ainda não se falava em pandemia e Covid 19. Éramos totalmente livres. A leitura do texto passou rapidamente da estranheza do tema e da linguagem poética para uma curiosidade e energia física e mental colectivas, entre alunos e formadores, transformando-se as aulas, a pouco e pouco, em momentos de aprendizagem e de partilha, no prazer de estar perante um texto prodigioso, antigo, sem fronteiras, sem limites de pensamento. Os ensaios seguiram o seu ritmo próprio, integrados nos horários obrigatórios de uma escola de ensino público. A primeira leitura deu-se nesse final de período escolar de 2019. Rapidamente se passou para uma série de ensaios intensos que culminaria, se tudo corresse bem, na estreia no Centro Olga Cadaval, em Sintra, numa representação pública. Só que, a pior notícia caiu como uma peste numa peça de teatro grego: a Pandemia bateu-nos à porta, precisamente a escassos dias da estreia, no início da primavera de 2020. Foi a grande desilusão.
Um sentimento de perda atingiu-nos a todos. A impossibilidade de estrear, de mostrar aos familiares e público em geral o trabalho desenvolvido ao longo de meses, criou um vazio e uma grande frustração. Como dar a volta? O grupo de profissionais do Projeto Teias, Mário Trigo, Filipe Araújo, Rute Lizardo e Jaime Rocha, com a cumplicidade e aceitação da totalidade dos formandos e do responsável pelo curso, o professor Efthimios, decidiu continuar o processo de Fragmento Ilíada agora numa componente audiovisual, em encontros de Zoom. Foi pedido aos alunos participações on-line com vídeos, monólogos gravados, filmagens com telemóvel, leituras e depoimentos sobre o momento novo e inusitado que estavam a viver. E a colaboração foi extraordinária, criativa, vigorosa. Qualquer coisa nova estava a nascer face às condições de vida recolhida que estávamos todos a passar, cada um em sua casa, fechado, isolado.
Estávamos já em 2021, como se estivéssemos perante uma travessia instável num oceano cheio de perigos, com deuses bons e maus, com monstros marinhos amigáveis e menos amigáveis, com tempestades e calmarias, gritos e festividades, como se todos estivéssemos dentro de uma "Odisseia", também num texto de Homero. O material artístico e literário concebido pelos alunos era melhor do que ouro. Os alunos surpreenderam-nos. A Guerra de Tróia era agora a nossa guerra de sobrevivência artística.
Então, que fazer com este "Fragmento Ilíada"? Como iríamos sair deste labirinto? Um filme era a resposta, um filme onde os alunos pudessem mostrar a sua sábia maneira de viver, reflexões, a sua voz, de enfrentar os problemas e trazer o texto para o cinema, com a direção do cineasta Ricardo Reis. E assim se passou para as filmagens. O texto estava lá, decorado e digerido pelos alunos, apenas faltava agora levá-lo para a tela, descobrir os lugares para colocar as personagens, descobrir enquadramentos para a zanga de Aquiles, para a morte de Heitor, para o sacrifício de Pátroclo, para a arrogância de Agamémnon, para a humilhação de Príamo, para o desespero da bela Helena, para as cenas de guerra e redenção de dois povos em disputa: gregos e troianos.
Foi este trabalho que foi feito antes do fecho do ano escolar de 2021: colocar os alunos em lugares de filmagem, na escola, nos corredores, no pátio, na casa das máquinas, no ginásio, na rua, na praia, nos rochedos, junto ao mar. Para renascer das cinzas, para deixar entrar na imagem digital todo um trabalho de dois anos que era preciso salvar. É aí que estamos, com a Musgo Produção Cultural, de Sintra, no Projecto Teias, num movimento artístico e educativo que irradia para a escola, para os alunos, pais, professores e público.
| QUANDO E ONDE? |
24 de Março de 2023
Auditório da Escola Secundária de Santa Maria de Sintra