Ferido, forçado ao exílio na ilha de Lemnos pelos seus irmãos gregos, uma ilha deserta no Mar Egeu, Filoctetes, doente, mordido por uma serpente, guardiã do Templo da deusa Crise, sobrevive a dez anos de sofrimento, os dez anos que dura a Guerra de Troia. Abandonado pelos homens, mas não pelos deuses, descendo à condição de homem primitivo e selvagem que habita uma gruta e se alimenta de caça, este herói, nesta versão dado como anti-herói, vem a tornar-se imprescindível para a conquista de Tróia, através da sua presença e do seu arco e flechas, que Hércules lhe deixou. Os que o abandonaram necessitam agora dele e nessa missão, Ulisses, o chefe da comitiva, terá de passar por uma provação inesperada: a resistência, a zanga, a cólera e o desejo de vingança de Filoctetes. Jaime Rocha, o autor desta versão, traz-nos para cena, mais do que um conflito moral ou um desejo dos deuses, o conflito humano, a luta do homem contemporâneo pela liberdade contra a opressão, contra as forças do mal que assolam os dias de hoje, com as suas ditaduras e guerras imperialistas, as suas mentiras e jogos políticos. É também a afirmação do herói mitológico do que era ser grego no século V a.C, dos ideais, valores e da moral que caracterizava o povo da Grécia antiga. Filoctetes é um símbolo do pensamento livre de todos os tempos.

FORNO - Espaço Cultural, Rio de Mouro